terça-feira, agosto 08, 2006

Madonna crucificada em Roma


Madonna desafia protestos e encena crucificação em Roma

em DN arte 08/08/06

Madonna ignorou o coro de protestos religiosos e encenou uma crucificação no concerto que deu em Roma, domingo à noite, como parte da sua digressão mundial Confessions. À margem da controvérsia, a cantora deixou um apelo à paz entre islão e judaísmo.

Perante uma audiência de 70 mil fãs, no estádio olímpico da capital italiana, Madonna voltou a desafiar as críticas, incluindo uma ameaça de excomunhão, e voltou a ser erguida, com uma coroa de espinhos na cabeça, numa cruz revestida de pequenos espelhos.

No centro da polémica esteve a integração de símbolos religiosos no espectáculo, considerada ofensiva por líderes católicos, muçulmanos e judaicos. Madonna defendeu-se com a justificação de que as imagens faziam parte de um apelo a um maior envolvimento na luta contra a sida.

Representantes da Igreja Católica chegaram a acusar a artista de blasfémia e de provocação, um sentimento que esta só inflamou ainda mais ao convidar o Papa a estar presente no concerto.

Porém, a única mensagem que Madonna reservou para a noite foi de paz. "É possível ter paz neste mundo. Vocês devem acreditar que mudar o mundo é possível", disse rodeada de dois bailarinos, com o Crescente Vermelho e a Estrela de David desenhados nos seus corpos.

O momento mais aguardado pelo público aconteceu quando interpretou o tema Live to Tell, durante o qual encenou a sua crucificação - uma secção que faz parte da digressão desde o seu arranque, em Maio -, ao mesmo tempo que eram projectadas imagens e números de pessoas em sofrimento em todo o mundo. A Rainha da Pop apimentou o espectáculo de duas horas e meia com outras imagens controversas, chegando, a certa altura, a mostrar fotografias do Papa Bento XVI logo a seguir às do ditador italiano Benito Mussolini.

Um desafio à fé

Uma fã de Madonna, Tonia Valerio, de 39 anos, disse à agência Reuters que achou a crucificação "desnecessária e provocadora". "Por estarmos em Roma, preferia que não o tivesse feito. Mas é a Madonna, ela é um ícone, e isso compensa a sua necessidade de provocar", explicou.

O cardeal do Vaticano Ersilio Tonino, que falou com o consentimento de Bento XVI, classificou o concerto como "um blasfemo desafio à fé" e uma "profanação da cruz". O cardeal apelou à excomunhão de Madonna, educada como católica.

A porta-voz da artista, Liz Rosenberg, recusou a ideia de que o espectáculo constituía um insulto à religião. "O contexto da cena na cruz não é negativo nem foi concebido para desrespeitar a Igreja", afirmou.

A Igreja Católica condenou no passado vários dos videoclips e digressões de Madonna (ver caixa) e um grupo do Vaticano alertou, em 2004, que a mais recente crença religiosa da autora de Like a Virgin, a Cabala (uma forma mística de judaísmo), constituía uma potencial ameaça à fé católica.

A polémica viaja agora para Moscovo, em antecipação do primeiro concerto da cantora na Rússia, no dia 11 de Setembro. A Igreja Ortodoxa russa já apelou aos seus fiéis para boicotarem o espectáculo, uma vez mais devido à apropriação da imagem de Jesus Cristo na cruz.
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