é du bocage !

"Esta situação entristece-me"
Luís Galrão
Diário de Notícias - Tema
"Passaram-lhe a rasteira e ele caiu", teoriza Joaquim Ezequiel, de 70 anos, sobre a provável demissão do presidente da Câmara de Setúbal. "Está a jogada da mafia toda montada", explica aos amigos com quem partilha a sombra na Praça Du Bocage, a poucos metros da autarquia. Para este reformado alentejano, a residir em Setúbal há 47 anos, Carlos de Sousa "é um homem do melhor que há e é por isso que os vampiros o atacaram". "Esta situação entristece-me, porque votei nele", lamenta este comunista assumido.
Francisco Reis, de 75 anos, sentado na outra ponta do banco, é mais pragmático nas razões que o levam a apoiar o presidente: "Eu estou com ele porque ele é um bom governante e paga-me a natação". E explica: "É que tenho reumático e aquilo faz-me bem". Ao lado, Ermelindo Claudina, um sadino de 73 anos, concorda com os amigos. "Esta cidade não se compara ao que era. Está a crescer, tem estradas melhores", diz. E reforça: "Ele é um homem popular, cumprimenta toda a gente e não tem manias". "Só podia ser do PCP", apressa-se a explicar Joaquim entre risos.
Ali perto, na Adega dos Passarinhos, também se comenta o assunto do dia. "Já ouvi na televisão, mas nós aqui não temos razões de queixa dele", conta ao DN Vítor Fidalgo, que trabalha neste café há oito anos. Em conversa com um cliente acaba por dizer que "a cidade podia estar mais desenvolvida", apontando como principal problema "a limpeza urbana, que está pior desde que o trabalho deixou de ser feito pela câmara".
Helena Trancoso, proprietária de uma loja de roupa infantil, lamenta a eventual saída do presidente. "Tenho pena que se vá embora, mas aquilo não devia ter acontecido", diz, referindo-se às irregularidades detectadas pela Inspecção-Geral da Administração do Território (IGAT). Antes de mudar há seis meses para Setúbal, Helena residiu oito anos em Palmela, concelho onde Carlos de Sousa também foi presidente. "Trago de lá muito boas recordações. Foi um excelente presidente". Aqui "ele encontrou a câmara numa situação complicada e precisava de tempo para a resolver".
Ao balcão do bar do Clube de Amadores de Pesca de Setúbal, Casimiro Santos afirma que "o trabalho do presidente não tem sido mau, mas o homem não pode fazer mais com verbas tão escassas". A única crítica dirige-se também para as falhas na limpeza urbana: "Desde que passou a ser feito por privados [a empresa IPODEC] aquilo não anda bem".
Ninguém arrisca um desfecho para esta crise na autarquia de Setúbal. Mas Joaquim Ezequiel tem uma proposta para resolver o problema das aposentações irregulares: "Chamem-nos todos e ponham-nos a trabalhar, porque ainda estão em boa idade".
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