os tempos estão a mudar novamente
bob dylan - os tempos estão a mudar novamente
Andreia C. Faria
jornal de notícias, cultura
Os tempos continuam a mudar, mas nem sempre necessariamente para melhor. É essa pelo menos a opinião de Bob Dylan, que, em vésperas de lançar o seu novo álbum - cinco anos de silêncio depois de "Love and theft" -, critica as técnicas de produção e os modernos formatos de gravação de música. O acontecimento chama-se "Modern times" (edição Sony/BMG) e surge embrulhado numa estratégia de secretismo e polémica.
Não é que Dylan tenha alguma coisa a provar enquanto músico, mas, no que toca à produção, emancipou-se e tomou o controlo da engenharia musical do seu mais recente trabalho discográfico, o 44.º da sua carreira, sob o pseudónimo Jack Frost.
Em entrevista à "Rolling Stone", o autor de "Blowin' in the wind" reforça que não gosta de gravar discos. "Faço-o com renitência. Não me apetecia [neste disco] ser sobre-produzido. De qualquer modo, sinto que sempre fui eu a produzir os meus discos, excepto quando alguém se intrometia", avisa, falando por meias palavras dos desentendimentos que protagonizou com os produtores Daniel Lanois ou Arthur Baker. E assegura "Ninguém sabe melhor do que eu como é que a minha música deve soar".
Piratas antecipam disco
"Modern times" tem lançamento previsto para segunda-feira, mas, como sempre acontece, a internet antecipou-se e as dez faixas que o compõem já rodam, ilegalmente, no ciberespaço desde o dia 21.
Nada que preocupe a Sony BMG, que pôs já em marcha uma campanha de marketing para atiçar ainda mais o apetite dos melómanos. A editora norte-americana convocou para Nova Iorque os mais prestigiados críticos musicais de todo o mundo, concedendo-lhes o privilégio de ouvirem, do início ao fim, as novas canções do lendário cantautor. Com uma condição todos os presentes na sala estavam legalmente proibidos de divulgar qualquer tipo de informação até à data de lançamento.
Oficialmente,o álbum terá uma antestreia na madrugada de domingo para segunda-feira, na XM Satellite Radio [ver caixa]. Mas os gurus da opinião musical já ditaram a sua sentença. "Modern times" é a "terceira obra-prima seguida" de Dylan, depois de "Time out of mind", de 1997, e "Love and theft", de 2001, avisou Joe Levy. E a "Rolling Stone" e a "Uncut", publicações musicais de peso, deram a pontuação máxima à nova obra de Dylan.
Em sentido contrário vai Alexis Petridis, crítico inglês do "The Guardian", que acusa "Modern times" de ser um trabalho "que não se assume" e não "um daqueles raros, inequívocos e fantásticos álbuns de Dylan".
As revistas de música adiantam ainda que o disco não se esquiva a referir feridas recentes na psique americana, como o 11 de Setembro e o furacão Katrina, mas não revelam se há mudanças de direcção nas opções estilísticas de Dylan. Há ainda curiosas referências à cantora Alicia Keys, de quem Bob é supostamente fã, na canção de abertura, "Thunder on the mountain" "Não há nada naquela rapariga de que eu não goste", declara.
CD é formato "atroz"
Mas não são apenas os críticos quem acende a discussão em torno do álbum. Aos 65 anos e sem papas na língua, é o próprio Dylan, em entrevista à "Rolling Stone", quem faz do seu novo trabalho um panfleto contra as técnicas modernas de gravação de música. "Não conheço ninguém que tenha feito um disco, nos últimos 20 anos, que soe decentemente. Ouves esses discos modernos e são atrozes, com o som espalhado por todo o lado. Não está nada definido, nem sequer a parte vocal, é como se fossem sons estáticos", critica.
E assume "As minhas canções provavelmente soavam dez vezes melhor em estúdio do que na gravação. O CD é pequeno, não tem estatura. Lembro-me quando apareceu o tipo do Napster e toda a gente arranjava música gratuitamente. Eu pensei: por que não? Não há nada que valha a pena, hoje!", acrescenta. Talvez por isso "Modern times" vai estar também disponível em formato vinil.
A acompanhar o lançamento de "Modern times", há ainda a insólita 'biopic' de Todd Haynes [ver caixa], em fase de rodagem, em que o músico norte-americano será incarnado por sete actores diferentes, entre os quais Heath Ledger, Christian Bale e... Cate Blanchet.
Mostrando que as boas companhias ajudam à manutenção do mito, Bob Dylan rodeou-se dos melhores actores da actualidade e não se fez rogado às grandes estratégias de marketing convidou Scarlett Johansson para as gravações de um 'videoclip' e de uma curta-metragem de promoção ao disco.
É o 'air du temp', e Dylan pode criticá-lo, mas não lhe vira a cara.
BOB DYLAN
Os tempos estão a mudar novamente
Não é só provável que se entre, novamente, na imagética psicadélica de Bob Dylan - é bastante seguro que esse seja o caminho "O filme é inspirado na música de Dylan e na sua habilidade para se recriar e se reinventar outra e outra vez". A perspectiva é de Christine Vachon, produtora de "I'm not there", o novo filme que o cineasta Todd Haynes está a preparar sobre o compositor. Mas a realização do autor de "Longe do paraíso", filme sobre as prisões do desejo, contém uma singularidade maior: Todd Haynes definiu sete personagens para representar o criador de "The times they are a-changin'" - e com um elenco forte: Heath Ledger, Richard Gere, Christian Bale, Charlotte Gainsbourg, Julianne Moore, Michelle Williams e Cate Blanchett. A acção revolve à volta da América dos anos 60 e 70, com uma série de histórias que expressam um aspecto da personalidade mercurial de Dylan. Cada uma das histórias terá o seu próprio tom visual adaptado a uma diferente temática. O filme está ainda a ser rodado no Québec, Canadá. A data de estreia não é conhecida, mas deverá ocorrer durante o próximo ano.
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Andreia C. Faria
jornal de notícias, cultura
Os tempos continuam a mudar, mas nem sempre necessariamente para melhor. É essa pelo menos a opinião de Bob Dylan, que, em vésperas de lançar o seu novo álbum - cinco anos de silêncio depois de "Love and theft" -, critica as técnicas de produção e os modernos formatos de gravação de música. O acontecimento chama-se "Modern times" (edição Sony/BMG) e surge embrulhado numa estratégia de secretismo e polémica.
Não é que Dylan tenha alguma coisa a provar enquanto músico, mas, no que toca à produção, emancipou-se e tomou o controlo da engenharia musical do seu mais recente trabalho discográfico, o 44.º da sua carreira, sob o pseudónimo Jack Frost.
Em entrevista à "Rolling Stone", o autor de "Blowin' in the wind" reforça que não gosta de gravar discos. "Faço-o com renitência. Não me apetecia [neste disco] ser sobre-produzido. De qualquer modo, sinto que sempre fui eu a produzir os meus discos, excepto quando alguém se intrometia", avisa, falando por meias palavras dos desentendimentos que protagonizou com os produtores Daniel Lanois ou Arthur Baker. E assegura "Ninguém sabe melhor do que eu como é que a minha música deve soar".
Piratas antecipam disco
"Modern times" tem lançamento previsto para segunda-feira, mas, como sempre acontece, a internet antecipou-se e as dez faixas que o compõem já rodam, ilegalmente, no ciberespaço desde o dia 21.
Nada que preocupe a Sony BMG, que pôs já em marcha uma campanha de marketing para atiçar ainda mais o apetite dos melómanos. A editora norte-americana convocou para Nova Iorque os mais prestigiados críticos musicais de todo o mundo, concedendo-lhes o privilégio de ouvirem, do início ao fim, as novas canções do lendário cantautor. Com uma condição todos os presentes na sala estavam legalmente proibidos de divulgar qualquer tipo de informação até à data de lançamento.
Oficialmente,o álbum terá uma antestreia na madrugada de domingo para segunda-feira, na XM Satellite Radio [ver caixa]. Mas os gurus da opinião musical já ditaram a sua sentença. "Modern times" é a "terceira obra-prima seguida" de Dylan, depois de "Time out of mind", de 1997, e "Love and theft", de 2001, avisou Joe Levy. E a "Rolling Stone" e a "Uncut", publicações musicais de peso, deram a pontuação máxima à nova obra de Dylan.
Em sentido contrário vai Alexis Petridis, crítico inglês do "The Guardian", que acusa "Modern times" de ser um trabalho "que não se assume" e não "um daqueles raros, inequívocos e fantásticos álbuns de Dylan".
As revistas de música adiantam ainda que o disco não se esquiva a referir feridas recentes na psique americana, como o 11 de Setembro e o furacão Katrina, mas não revelam se há mudanças de direcção nas opções estilísticas de Dylan. Há ainda curiosas referências à cantora Alicia Keys, de quem Bob é supostamente fã, na canção de abertura, "Thunder on the mountain" "Não há nada naquela rapariga de que eu não goste", declara.
CD é formato "atroz"
Mas não são apenas os críticos quem acende a discussão em torno do álbum. Aos 65 anos e sem papas na língua, é o próprio Dylan, em entrevista à "Rolling Stone", quem faz do seu novo trabalho um panfleto contra as técnicas modernas de gravação de música. "Não conheço ninguém que tenha feito um disco, nos últimos 20 anos, que soe decentemente. Ouves esses discos modernos e são atrozes, com o som espalhado por todo o lado. Não está nada definido, nem sequer a parte vocal, é como se fossem sons estáticos", critica.
E assume "As minhas canções provavelmente soavam dez vezes melhor em estúdio do que na gravação. O CD é pequeno, não tem estatura. Lembro-me quando apareceu o tipo do Napster e toda a gente arranjava música gratuitamente. Eu pensei: por que não? Não há nada que valha a pena, hoje!", acrescenta. Talvez por isso "Modern times" vai estar também disponível em formato vinil.
A acompanhar o lançamento de "Modern times", há ainda a insólita 'biopic' de Todd Haynes [ver caixa], em fase de rodagem, em que o músico norte-americano será incarnado por sete actores diferentes, entre os quais Heath Ledger, Christian Bale e... Cate Blanchet.
Mostrando que as boas companhias ajudam à manutenção do mito, Bob Dylan rodeou-se dos melhores actores da actualidade e não se fez rogado às grandes estratégias de marketing convidou Scarlett Johansson para as gravações de um 'videoclip' e de uma curta-metragem de promoção ao disco.
É o 'air du temp', e Dylan pode criticá-lo, mas não lhe vira a cara.
BOB DYLAN
Os tempos estão a mudar novamente
Não é só provável que se entre, novamente, na imagética psicadélica de Bob Dylan - é bastante seguro que esse seja o caminho "O filme é inspirado na música de Dylan e na sua habilidade para se recriar e se reinventar outra e outra vez". A perspectiva é de Christine Vachon, produtora de "I'm not there", o novo filme que o cineasta Todd Haynes está a preparar sobre o compositor. Mas a realização do autor de "Longe do paraíso", filme sobre as prisões do desejo, contém uma singularidade maior: Todd Haynes definiu sete personagens para representar o criador de "The times they are a-changin'" - e com um elenco forte: Heath Ledger, Richard Gere, Christian Bale, Charlotte Gainsbourg, Julianne Moore, Michelle Williams e Cate Blanchett. A acção revolve à volta da América dos anos 60 e 70, com uma série de histórias que expressam um aspecto da personalidade mercurial de Dylan. Cada uma das histórias terá o seu próprio tom visual adaptado a uma diferente temática. O filme está ainda a ser rodado no Québec, Canadá. A data de estreia não é conhecida, mas deverá ocorrer durante o próximo ano.
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