terça-feira, agosto 22, 2006

A raia é espanhola

Maria José Margarido
Rui Coutinho (foto)


Diário de Notícias - Boa Vida
Há em Freixo de Espada à Cinta - e certamente noutros locais fronteiriços - o costume de alugar um código postal em Espanha, que os locais garantem bastar ser um apartado, para depois comprar um carro no país hermano e assim não pagar o imposto automóvel português. Os sinais de que esta população dorme e trabalha deste lado mas vive quase sempre do outro são assustadores. Do gás à gasolina, passando pela roupa e alimentação, tudo é comprado em Espanha, porque os preços compensam e as distâncias também.

"Um freixenista, um poiarês ou ligarês que queira fazer as compras mensais só tem, em Portugal, hipermercados em Bragança e Mirandela", explica o historiador e funcionário da câmara Jorge Duarte - e só tem estas alternativas porque os comerciantes locais perceberam que não valia a pena tentar fazer frente ao gigante que é Salamanca, a 110 quilómetros de distância. As pequenas mercearias que existem servem apenas para os produtos alimentares ocasionais. Também em Salamanca há grandes armazéns de roupa, móveis e tudo o que se possa imaginar - até Vila Real demora-se duas horas, até ao Porto três horas e é "tudo mais caro". Daqui à capital espanhola estende-se a mesma distância que até à portuguesa - com a vantagem, no caso da primeira, de oferecer voos mais baratos para o resto do mundo.

Jorge Duarte acredita que, quando as pessoas se aperceberem destas vantagens, "voltam para a raia e esquecem o litoral. Aqui estamos mais perto da Europa, e a segurança, até em termos de criminalidade, é total." Os espanhóis também cá vêm, mas "pela comida, adoram o bacalao". E pela paisagem: "Este verde e os montes são irresistíveis: é que daquele lado, lá em cima, começa logo a meseta."
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